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As linguagens das mídias digitais

Desenvolvido por Alexandra Cristina Moreira Caetano em 2022 baseado no livro Teoria das Mídias Digitais. Linguagens, ambientes e redes, publicado em 2014 por Martino, Luís Mauro Sá.

As linguagens das mídias digitais

Objetivos de aprendizagem

Introdução

Antes de falarmos das linguagens das novas mídias, devemos retomar o que são as novas mídias. Sempre associamos as novas mídias a palavras como: interatividade, multimeios, convergência e outras expressões que se aproximam dessas em significado e abrangência. Apontamos essas palavras como se fossem características, ou mesmo “as características”, que determinam as novas mídias. Foi, então, que Lev Manovich levantou a bandeira de que nenhuma dessas palavras definem os principais elementos das novas mídias, quando muito falam sobre seus elementos superficiais. E o que isso significa na prática?

Antes de entender por que Lev Manovich trouxe as reflexões que mudaram a forma como definimos e lidamos com as novas mídias, precisamos saber quem é ele:

Professor do Departamento de Artes Visuais e diretor do Software Studies Initiative, no California Institute for Telecommunications and Information Technology (CALIT2). Professor da European Graduate School (EGS). É autor de vários livros, entre eles The Language of New Media (The MIT Press, 2001).

Foi Manovich que, em 2001, mergulhou no universo das mídias para encontrar o que elas têm de mais específico. Seu primeiro passo foi buscar encontrar os pontos comuns para definir o que é de fato uma nova mídia, ao invés de perguntar o que as novas mídias podem fazer e ficar descrevendo suas capacidades.

Saiba Mais

Lev Manoivich é um inovador de renome mundial e um grande influenciador em muitos campos, incluindo teoria da mídia, humanidades digitais, análise cultural e arte da mídia. Ele é Professor Presidencial no The Graduate Center, City University of New York, e Diretor do Cultural Analytics Lab. Manovich foi incluído na lista das "25 pessoas que moldam o futuro do design" e na lista das "50 pessoas mais interessantes construindo o futuro". Ele é autor de 180 artigos e 15 livros que incluem Cultural Analytics, Instagram and Contemporary Image e The Language of New Media, descrito como "a história da mídia mais sugestiva e abrangente desde Marshall McLuhan". Os projetos de arte digital de Manovich foram exibidos em mais de 110 exposições internacionais no Centre Pompidou, ICA London, ZKM, KIASMA e outros locais importantes. (Biografia escrita pelo próprio Manovich)

Para conhecer um pouco mais deste pesquisador: Acesse 
https://bit.ly/3z1uERP Acessado em 03 de agosto de 2024.

Em “The Language of New Media” (2001), Lev Manovich começa a discussão das novas mídias invocando sua definição, deduzida de como o termo é usado na imprensa popular: as novas mídias são objetos culturais que usam a tecnologia computacional digital para distribuição e exposição. Portanto, a internet, os sites, a multimídia de computadores, os jogos de computadores, o CD e o DVD, realidade virtual e os efeitos especiais gerados por computador se enquadram todos nas novas mídias. Já outros objetos culturais que usam a computação para a produção e o armazenamento, mas não para distribuição final, tais como programas de televisão, filmes de longa-metragem, revistas, livros e outras publicações com base em papel, não são novas mídias. Com isso o autor buscou não reduzir as novas mídias a um único objeto, mas tratá-lo como uma pluralidade de aparelhos, ferramentas, dispositivos e acessórios fixos ou móveis, acoplados ou não diretamente aos seres humanos.

Só que essa definição nos traz alguns problemas. Primeiro, ela tem de ser revisitada todo ano, quando mais alguma parte da cultura venha a utilizar da tecnologia de computação para distribuição; esse é o caso da mudança da televisão analógica para digital, ou da mudança da projeção de filmes com base em película para a projeção digital nos cinemas, assim como os livros eletrônicos. Segundo, podemos suspeitar que em algum momento a maioria das formas de cultura usará distribuição computadorizada e portanto o termo novas mídias definido dessa maneira não terá especificidade. Terceiro, essa definição não nos diz nada sobre os possíveis efeitos da distribuição com base no computador, sobre a estética em que está sendo distribuído. Ou seja, somente se identificarmos que os sites, a multimídia dos computadores, os jogos eletrônicos, os CDs e a realidade virtual têm todos eles alguma coisa em comum por serem expressos por meio de um computador é que faz sentido pensar nas novas mídias como uma categoria teórica útil.

As outras características das novas mídias têm como ponto comum a interseção de duas áreas:  comunicação e os computadores. Atualmente é praticamente impossível pensar um sem o outro, mas nem sempre foi assim. Essas eram áreas distantes uma da outra, até que em algum momento, os dois domínios se misturaram. Star Trek – A Ira de Khan foi o primeiro longa-metragem a incluir uma sequência gerada inteiramente por computação gráfica, já despontando a possibilidade desse encontro de áreas. Foi no filme Tron, lançado em 1983, que, pela primeira vez, apareceram cenários desenvolvidos por computador. Na música, teremos as gravações do álbum Switched-on Bach de Walter Carlos (1967) no qual as obras do compositor J.S. Bach são recriadas em um sintetizador.

Nasce a Nova Mídia

Concordamos que a origem das novas mídias é a interseção entre os antigos meios de comunicação, da escrita, da televisão, passando evidentemente pela imprensa, pela fotografia, pelo rádio e pelo cinema e o computador. A aplicação das potencialidades matemáticas do computador às características de produção e à linguagem dos meios de comunicação teve como resultado o domínio que chamamos de nova mídia.

A partir da segunda metade do século XX, os computadores começaram a ganhar mais espaço, por reduzirem seu tamanho, aumentarem sua capacidade de processamento e terem seu custo reduzido. Isso permitiu sua aplicação em diferentes áreas. Inicialmente usados para cálculos e análise de dados, os computadores ganharam as artes e a indústria. Houve uma computadorização da cultura nas palavras de Manovich.

Assistimos à criação de novas formas culturais como a cibercultura, os games e realidade virtual, além de vermos a redefinição das formas já existentes como a fotografia e o cinema. As atividades do dia a dia passaram a depender de um computador ou de um sistema computadorizado. Basta lembrar que não nos desgrudamos do nosso computador de bolso: o celular. Exato! Computador não é somente um aparelho com uma tela, um mouse, um teclado ou um notebook; incluímos nessa categoria: os tablets e os smartphones

Mesmo que externamente esses aparelhos sejam diferentes, no fundo todos não deixam de ser calculadoras, como diz Manovich. Tudo o que vemos nas telas desses instrumentos é o resultado de operações matemáticas, equações e instruções programadas, que definem o que deve aparecer em cada coordenada, onde, quando, como e por quê. São programas com instruções a respeito do que deve ser feito em cada situação, e o que acontecerá após cada um dos comandos, tudo minuciosamente calculado. Todos esses cálculos permitem à máquina tomar decisões, exibir resultados, lidar com esses resultados, realizar novas operações matemáticas e assim sucessivamente. Essa estrutura invisível de cálculos é a estrutura da linguagem da nova mídia.

Em uma música digitalizada, por exemplo, cada som corresponde a uma série de cálculos que instruíram o aparelho a produzir o som com um timbre, considerando as variáveis: timbre, altura, duração, ritmo, em combinação de valores que passam a ser inseridos nas operações matemáticas. Cada mínimo som reproduzido exige, como você pode ver, um cálculo complexo que você nem percebe, porque simplesmente espera ver o som reproduzido em seus fones quando clicar no play. 

Imagine agora uma canção composta por uma orquestra com inúmeros instrumentos que devem ser processados ao mesmo tempo, para colocar na ordem certa com cada momento da voz. Neste ponto, um fluxo ininterrupto de cálculos altamente complexos é necessário para manter a música tocando. Agradecemos, então, ao encontro dos meios de comunicação com os computadores que tornaram isso possível, nem precisamos pensar nos cálculos que são feitos e podemos simplesmente curtir a música.

O que faz da mídia uma nova mídia

Se retornarmos às mídias tradicionais, vamos lembrar que cada uma delas possuía suas próprias características e cada uma tinha um material de suporte. Martino (2014) lembra que as chapas fotográficas pouco tinham a ver com as películas de filmes, que usavam um projetor, processo que se distanciava da gravação de sons. O autor continua seu raciocínio, lembrando que a produção de mensagens no rádio usava ondas eletromagnéticas, enquanto na televisão sinais analógicos capturados por uma câmera eram convertidos em imagens por meio de um tubo de raios catódicos... em outras palavras o suporte material de cada meio de comunicação era diferente de todos os outros. Isso levou ao desenvolvimento de linguagens específicas para cada um desses meios. Cada meio tinha suas possibilidades e suas limitações por serem elementos materiais físicos.

O desenvolvimento dos meios de comunicação correu em paralelo ao desenvolvimento do computador, tendo como principal característica o armazenamento, análise, processamento e apresentação de novas informações. Assim, ganha velocidade de processamento e “aprende” a seguir novas instruções. Até que, na segunda metade do século XX, os meios de comunicação e os computadores se encontram e começam a mesclar suas potencialidades. O que Manovich define como tradução das informações existentes no meio de comunicação em dados numéricos, gráficos, imagens em movimento, sons, formas, espaços e textos que ao serem computados geram um conjunto de dados.

Uma mídia se torna uma nova mídia quando temos a integração entre o computador e os meios de comunicação, alterando a maneira como ambos se articulam com a cultura. As transformações resultantes dessa junção impactaram nosso cotidiano. A nova mídia tornou-se parte da nossa vida de forma tão simbiótica que suas características individuais vêm à tona.

Princípios de uma nova mídia

As novas mídias têm algumas características comuns relativas à maneira como elaboram suas produções. Manovich definiu então 5 princípios que dizem respeito à natureza das novas mídias:

estudo de caso

Para que possa entender os princípios das novas mídias, vamos pensar na navegação na rede social quando você começa a utilizar uma nova rede social, por exemplo o TikTok. Ao se inscrever, você começa a selecionar os vídeos que deseja assistir e começa a parar naqueles que são do seu maior interesse. E descarta outros que não lhe despertam tanta atenção. Com isso você observará que vídeos semelhantes a aqueles que você escolheu, prestou atenção e parou mais tempo para assistir começaram a aparecer com frequência na sua linha do tempo. O mesmo acontece com as sugestões que são feitas pelo YouTube, para que você possa assistir a novos vídeos. Automação permite entre outros fatores algum tipo de personalização de conteúdo selecionado. 

Então você decide postar fotos na sua conta, e escolhe dar uma retocada na foto, ao fazê-lo seja usando o Photoshop ou o Capcut, essa alteração é possível pela modularidade. Ou você pode optar por pegar um texto e recombinar os seus parágrafos gerando uma infinidade de novas combinações que certamente precisarão apenas de alguns ajustes.

E quando pensávamos que as novas mídias representam esse universo de possibilidades criaram o NFT – token não fungível, que garante a certificação de autenticidade e de unicidade de um objetivo construído em uma nova mídia.

Manovich vai além ao prever que os dois lados, cultural e computacional acabam por se contaminar e um tende a influenciar o outro. O intercâmbio entre códigos culturais e códigos computacionais acaba por transformar a cultura humana, incorporando essas novas linguagens.

Em Resumo

As novas mídias se definem a partir do encontro dos meios de comunicação já existentes (mídias tradicionais) com o computador. Desse encontro emerge a transformação de imagens, de textos, de sons e de filmes em sequências de 0s e 1s, representados por pixels com coordenadas bem definidas e instruções que podem permitir que suas qualidades sejam modificadas. A linguagem das novas mídias é dada pela complexidade de combinações e operações dos códigos matemáticos. A vantagem é vermos texto, imagem e som usando códigos similares que permitem misturar elementos.

Na ponta da língua

Referências Bibliográficas

Manovich, Lev. (2005) Novas mídias como tecnologia e ideia: dez definições. In: Leão, Lúcia (Org.). O chip e o caleidoscópio: reflexões sobre as novas mídias. São Paulo: Senac.

Martino, Luís Mauro Sá. (2014) Teoria das Mídias Digitais. Linguagens, ambientes e redes. Petrópolis: Editora Vozes

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As linguagens das mídias digitais

Imagens: shutterstock

Livro de referência:

Teoria das Mídias Digitais. Linguagens, ambientes e redes.

MARTINO, Luís Mauro Sá

Editora vozes, 2014

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